A
sociedade tem adotado um estilo de vida extremamente consumista, um modelo que
inclusive, tem colocado o sujeito numa condição de desafiado a parecer ser; para
Casadore e Hashimoto (2012) a sociedade atual está saindo de um extremo para o
outro, de um estado de rejeição pelo novo, para o desprezo aos vínculos e
costumes duradouros. É nessa busca insaciável que o indivíduo é agredido pelo
estresse, que é um conflito, advindo de pressões e aflições que resultam em desequilíbrios
emocionais. O modo
que o sujeito se relaciona com suas atividades laborais e as condições adversas das
relações de trabalho podem levar o indivíduo ao adoecimento, e até à morte.
O
Ministério da Saúde classifica, como uma das doenças do trabalho, a Síndrome de
Burnout ou Síndrome do esgotamento profissional
(BRASIL, 2001); ela “afeta, principalmente, profissionais da área de serviços
ou cuidadores, quando em contato direto com os usuários, como trabalhadores da
educação, da saúde, policiais, assistentes sociais, agentes penitenciários,
professores e outros” (BRASIL, 2001, p. 192).
Assim sendo, Burnout, que um resultado do estresse, é uma
síndrome que atinge pessoas que atuam em atividades relacionadas com a pressão
do público.
“Burn – out”, do inglês, de um modo
simplificado é um tipo de falta de força para continuar funcionando. O pastor,
líder religioso, trabalhador, cuidador comportamental e espiritual é também um
conselheiro dos indivíduos que frequentam as reuniões religiosas. Os indivíduos aconselhados pelo pastor são vítimas
deste mau - estar moderno chamado estresse, que demandam atenção, quase que em tempo
incondicional, o que possibilita tornar o conselheiro um sujeito vulnerável à
Síndrome de Burnout, devido às
inúmeras exigências na atividade pastoral e em suas condições estressoras.
Entender
que ao homem é inerente fragilidades e limitações torna-se um avanço para lidar
com os diversos conflitos do cotidiano. Entretanto, para
o líder espiritual, provavelmente não seja fácil transitar entre assuntos e
costumes do universo social e, ao mesmo tempo, o espiritual. Ainda há barreiras
por parte dos religiosos ao relacionarem causas de sofrimentos, sobretudo, os
psicopatológicos a questões emocionais. Diversos cristãos tendem a atribuir doenças ao pecado ou à falta de fé
no sagrado, atitudes estas que impedem os tratamentos. Entre a fé religiosa e a
vida cotidiana, há uma lacuna, às vezes, não percebida com facilidade pelos que
de fato praticam religião. Portanto, espero poder auxiliar pastores, líderes e
conselheiros religiosos, na compreensão de que, apesar da prática constante de
uma fé espiritual, o homem ainda assim, está sujeito a sofrimentos psicológicos
manifestos em seu cotidiano.
Atualmente
o estresse pode afetar, com maior ou menor intensidade, todo e qualquer
indivíduo. O anseio para resolver as adversidades, até mesmo àquelas inerentes
à existência humana, tornam-se desafios que o indivíduo nem sempre terá êxito
e, portanto, passa a padecer em um estado de estresse. Desse jeito, um indivíduo que outrora se
envolvia com intensidade nas atividades e, atualmente demonstra desmotivado,
sem vigor e irritado, é provável que esteja acometido pela Síndrome de Burnout (CARLOTTO, 2011). Pessoas com Burnout “[...] se sentem infelizes e
insatisfeitas com seu desenvolvimento profissional, e experimentam um declínio
no sentimento de competência e êxito no trabalho.” (CARLOTTO, 2011, p. 8).
O pastor é o indivíduo que cuida de rebanhos ou líder que cuida da igreja. Deste
modo, o pastor é um indivíduo que trabalha na gerência de Igrejas, que têm como
membros religiosos de origem evangélica. Há ainda um agravante, pois, aliado à
fé particular, o pastor deve possuir a convicção de sua vocação para o
exercício sacerdotal aliado a outras habilidades, por exemplo: bom estilo de
liderança, capacidade de se relacionar com todos, postura ética ante a
sociedade e ante as pessoas de seu pastoreio, e também, oratória adequada e
destreza para o aconselhamento familiar. Portanto, dentro do aspecto simbólico
de pastor e rebanho, há uma realidade intrínseca, a necessidade de cuidar,
proteger, dar abrigo e bons exemplos aos fiéis de sua comunidade e a tantos
quantos o solicitar. Dessa forma, o líder
eclesiástico, além da ausência do reconhecimento das pessoas, deve lidar com os
mais diversos conflitos que afligem a humanidade, especialmente, conflitos dos
membros de sua comunidade. Apesar de a igreja ser um ambiente de
espiritualidade e fé, problemas dos mais variados podem ocorrer com os
religiosos que ali convivem. Sendo assim, vale ressaltar que ambiente com
relações interpessoais conflituosas e ingratas e, agenda de atividades desorganizadas
torna-se um gerador de doenças emocionais.
Pesquisas afirmam que o excesso de dedicação do
pastor, muitas vezes não retribuída, causa a sensação de desvalorização. O Burnout é uma Síndrome que faz o indivíduo perder o sentido da sua
relação com o trabalho e sente como se as coisas já não tivesse mais
importância. Como qualquer trabalhador comum, a atividade e as habilidades do pastor
são avaliados e, exigidas, pela sociedade uma máxima 'perfeição', inclusive no
que se refere ao comportamento ético, postura, costumes e teologias.
Diante dos riscos de
adoecimento, torna-se necessário uma atitude preventiva, sendo assim, o pastor deve ser despertado para a realidade do mundo onde
existimos, um universo povoado por seres sedentos, sobretudo insaciáveis, de
respostas. Psicoterapeutas relatam que líderes religiosos trazem diversas
queixas, sendo uma das mais frequentes, a de ter que ser forte e pacífico
quando, no entanto, estão em tormentos e debilitados. Para o pastor, aceitar
que ao homem está inerente à fragilidade e a limitação, poderá ser um grande
salto para lidar com seus próprios conflitos emocionais.
Luzimar Vieira
Pastor e Psicólogo
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