quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Aposentadoria, Pijama e Passado





E há de ser que, depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos VELHOS terão sonhos, os vossos jovens terão visões.  Joel 2:28


Envelhecer é um processo irreversível caracterizado pela crescente decadência da função do nosso organismo. Pode variar de indivíduo para indivíduo, sendo gradativo para uns e mais rápido para outros. Caracterizado como um processo dinâmico, progressivo e irreversível, ligados intimamente a fatores biológicos, psíquicos e sociais.
Velhice, estado  que para alguns, remete olhar pela lente do retrovisor, ou seja, viver de passado, aliás, há aqueles que vivem do passado e, outros vivem no passado - ambos nocivos ao desenvolvimento humano.  O hábito de pautar aposentadoria ao pijama e, ficar rememorando o que já se foi não é uma boa opinião, pijama e passado pode significar uma segunda aposentadoria que se traduz , a depender do contexto, improdutividade; mesmo não possuindo tanto vigor de antes, ainda é possível subir sobre um gigante e continuar olhando para frente.

A imagem convencional do aposentado que passa os dias descansando, vendo TV e improvisando pequenas atividades para matar o tempo, de acordo com uma pesquisa, está se tornando uma fotografia desbotada do passado. O mundo atual com suas dinâmicas oferece inúmeras opções, mesmo porque, os estudos revelam que há escassez de indivíduos capacitados e experientes nas mais diversas atividades da sociedade. Adotar o pijama pode significar ociosidade e, pode resultar em depressão ou doenças degenerativas, por exemplo, Alzheimer; aposentadoria com pijamas pode atrair exclusão e desatualização.

Para aqueles que associam velhice à improdutividade, vale algumas reflexões:

“Se o tempo envelhecer o seu corpo mas não envelhecer a sua emoção, você será sempre feliz”.
“Saber envelhecer é a grande sabedoria da vida”.
“Envelhecer, qualquer animal é capaz. Desenvolver-se é prerrogativa dos seres humanos. Somente uns poucos reivindicam esse direito”.
"Envelhecer é só uma questão de tempo, e, eu nunca tive tempo pra isso."

De acordo com o verso Bíblico citado no início do texto, embora o Profeta Joel fale de profecia nos tempos do Antigo Testamento como um ministério não mais para poucos, mas, característica também dos velhos, penso também que Velhos sonhando remete ao futuro;  

Velho sonhador diz de um pensar e planejar o amanhã para alguém sem muito vigor cujo espírito começou a decair; sonhar  revela  indivíduos idealizadores, faz despontar uma pessoa  que expressa a continuação de um viver saudável e produtivo.
Aposentar-se pode significar parar de trabalhar, não necessariamente deixar de ser útil, ou deixar de ser importante; aposentar significa deixar de se afligir pelo trabalho. Quando nos apoderamos do pijama, como crianças apegadas ao cobertorzinho, estamos aceitando as imposições que dizem por ai: “lugar de velho é nos abrigos, nas casas de repouso, nas clinicas geriátrica ou no ancionato”.   

A velhice se confunde com solidão, ociosidade e abandono, às vezes com doença física, outras vezes com demência mental, mas não devia ser assim. O cabelo grisalho, afirma Salomão, é uma coroa de esplendor, e obtém-se mediante uma vida justa.(Provérbios 16:31). Jó , em sua defesa disse: “Com os mais Velhos está a sabedoria e , na abundância de dias, o entendimento”. (Jó 12:12). “Um homem pode ter cem filhos e viver muitos anos. No entanto, se não desfrutar as coisas boas da vida, digo que uma criança que nasce morta e nem ao menos recebe um enterro digno tem melhor sorte que ele”.(Eclesiastes 6:3).

Portanto, que tal uma aposentadoria sem pijamas mas, com viagens, exercícios, competições e desafios, diversões, leituras de bons livros, novos projetos,  novas descobertas, produção de conhecimento, novas atividades, etc.

Pense Nisto e Vamos lá !

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Então é Natal !



O Evangelista que melhor narra sobre o nascimento de Jesus chama-se Lucas, seu propósito ao apresentar Jesus, antes de mais nada, foi promover o Cristianismo e a prática de uma fraternidade universal.   Lucas apresenta Jesus não apenas como um mero Messias Judeu, mas como Salvador mundial. 


Um sensato homem por nome Simeão que esperava a consolação do povo naquela época, ao tomar o menino Jesus nos braços cantou dizendo: “... os meus olhos viram a tua salvação ...” e, chamou Jesus de “Luz para alumiar as Nações”, uma esperança digna de reprodução. Com o nascimento de Jesus, nasce também uma nova esperança, Ele veio buscar e salvar o que se havia perdido e, com seu ministério e ressurreição a esperança se consolida.


O Evangelista Lucas em suas narrativas, nos trás ensinamentos com ênfase às advertências de Jesus, por exemplo, o perigo das riquezas e a simpatia pelos menos favorecidos; o Evangelista integra o nascimento de Jesus com as atitudes de misericórdia infelizmente ausente nos dias atuais, Lucas relata eventos que nos treina para a prática da piedade , por exemplo, o julgamento do Fariseu contra a mulher pecadora que Jesus amou e perdoou. A ovelha perdida que recebeu cuidado e carinho, quando resgatada. O filho pródigo que reconheceu o desacerto e aborrecimento com o Pai e, foi recebido de volta.  Zaquel o explorador arrependido que reconciliou e recebeu Jesus em sua casa.  Por fim, o ladrão arrependido perdoado na cruz.

A forma como Lucas descreve a história de Jesus não nos deixa outra conclusão a não ser buscar compreender que o nascimento de Jesus foi o divisor de águas dividindo a história ao meio, ensinando um novo viver.  A dureza do coração, a descrença em Deus, a arrogância e a prepotência que insiste permanecer em muitos corações, têm causado guerras, discórdias e individualismo entre as pessoas , os homens não reconhecem a soberania de Deus  nem tão pouco se dispõem para aprender com a vida de Jesus através do Evangelho. 


O dia da celebração do natal chegou mas, o “Papai Noel” é quem assume posição de evidência na história estimulando crianças e adultos a viverem de fantasias no mundo real. A sensação é que o Jesus  "aniversariante", não é tão bem vindo em muitos ambientes, mesmo por que, as trocas de presentes, as bebidas e comidas é o que mais importa, comportamento que sinaliza que a vida vai continuar com os mesmos hábitos:  Intolerância , Agressões, Falta de Perdão, etc -  e Jesus? Só mais uma historinha!  Amor , perdão, compaixão ,  é tudo fantasia. 



“Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os seus ombros. Ele será chamado Maravilhoso, Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz.” (Isaías 9.6)


O sentido do Natal deve ser sempre Jesus!




segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Feliz 2015



Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas. Apóstolo Paulo aos Efésios 2:10

“Feitura” no Grego , tem um significado interessante, ela é do verbo “poieo”, que é o mesmo que “poema ou poesia”.
“Somos feitura”, Somos a Poesia , a parte que mais dá sentido à criação.
Nossa vida foi planejada para ter Rima, Harmonia, Simetria, Razão e, Sentido. Somos assim!
Final de ano nos remete às reflexões . Bom também recordar as palavras do escritor Fernando Sabino:
Temos a certeza de que estamos sempre começando, a certeza de que é preciso continuar e a certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar.
Façamos da interrupção um caminho novo,
Da queda um passo de dança,
Do medo uma escada,
Do sonho uma ponte,
Da procura um encontro.

Feliz final de ano a todos, 2015  muito mais!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

A complicada arte de ver


A complicada arte de ver






Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.

William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.

Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.

Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. "Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios", escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada "satori", a abertura do "terceiro olho". Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: "Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram".

Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, "seus olhos se abriram". Vinícius de Moraes adota o mesmo mote em "Operário em Construção": "De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa garrafa, prato, facão era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção".

A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas  e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.

Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: "A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas".

Por isso - porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver -  eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar "olhos vagabundos"...

Rubem Alves,  educador, escritor -  www.rubemalves.com.br