domingo, 12 de novembro de 2017

O Pastor a Igreja e o Burnout

A sociedade tem adotado um estilo de vida extremamente consumista, um modelo que inclusive, tem colocado o sujeito numa condição de desafiado a parecer ser; para Casadore e Hashimoto (2012) a sociedade atual está saindo de um extremo para o outro, de um estado de rejeição pelo novo, para o desprezo aos vínculos e costumes duradouros. É nessa busca insaciável que o indivíduo é agredido pelo estresse, que é um conflito, advindo de pressões e aflições que resultam em desequilíbrios emocionais. O modo que o sujeito se relaciona com suas atividades laborais e as condições adversas das relações de trabalho podem levar o indivíduo ao adoecimento, e até à morte.
O Ministério da Saúde classifica, como uma das doenças do trabalho, a Síndrome de Burnout ou Síndrome do esgotamento profissional (BRASIL, 2001); ela “afeta, principalmente, profissionais da área de serviços ou cuidadores, quando em contato direto com os usuários, como trabalhadores da educação, da saúde, policiais, assistentes sociais, agentes penitenciários, professores e outros” (BRASIL, 2001, p. 192).  Assim sendo, Burnout, que um resultado do estresse, é uma síndrome que atinge pessoas que atuam em atividades relacionadas com a pressão do público.
Burn – out”, do inglês, de um modo simplificado é um tipo de falta de força para continuar funcionando. O pastor, líder religioso, trabalhador, cuidador comportamental e espiritual é também um conselheiro dos indivíduos que frequentam as reuniões religiosas. Os indivíduos aconselhados pelo pastor são vítimas deste mau - estar moderno chamado estresse, que demandam atenção, quase que em tempo incondicional, o que possibilita tornar o conselheiro um sujeito vulnerável à Síndrome de Burnout, devido às inúmeras exigências na atividade pastoral e em suas condições estressoras.
Entender que ao homem é inerente fragilidades e limitações torna-se um avanço para lidar com os diversos conflitos do cotidiano. Entretanto, para o líder espiritual, provavelmente não seja fácil transitar entre assuntos e costumes do universo social e, ao mesmo tempo, o espiritual. Ainda há barreiras por parte dos religiosos ao relacionarem causas de sofrimentos, sobretudo, os psicopatológicos a questões emocionais. Diversos cristãos tendem a atribuir doenças ao pecado ou à falta de fé no sagrado, atitudes estas que impedem os tratamentos. Entre a fé religiosa e a vida cotidiana, há uma lacuna, às vezes, não percebida com facilidade pelos que de fato praticam religião. Portanto, espero poder auxiliar pastores, líderes e conselheiros religiosos, na compreensão de que, apesar da prática constante de uma fé espiritual, o homem ainda assim, está sujeito a sofrimentos psicológicos manifestos em seu cotidiano. 
Atualmente o estresse pode afetar, com maior ou menor intensidade, todo e qualquer indivíduo. O anseio para resolver as adversidades, até mesmo àquelas inerentes à existência humana, tornam-se desafios que o indivíduo nem sempre terá êxito e, portanto, passa a padecer em um estado de estresse.  Desse jeito, um indivíduo que outrora se envolvia com intensidade nas atividades e, atualmente demonstra desmotivado, sem vigor e irritado, é provável que esteja acometido pela Síndrome de Burnout (CARLOTTO, 2011). Pessoas com Burnout “[...] se sentem infelizes e insatisfeitas com seu desenvolvimento profissional, e experimentam um declínio no sentimento de competência e êxito no trabalho.” (CARLOTTO, 2011, p. 8).
O pastor é o indivíduo que cuida de rebanhos ou líder que cuida da igreja. Deste modo, o pastor é um indivíduo que trabalha na gerência de Igrejas, que têm como membros religiosos de origem evangélica. Há ainda um agravante, pois, aliado à fé particular, o pastor deve possuir a convicção de sua vocação para o exercício sacerdotal aliado a outras habilidades, por exemplo: bom estilo de liderança, capacidade de se relacionar com todos, postura ética ante a sociedade e ante as pessoas de seu pastoreio, e também, oratória adequada e destreza para o aconselhamento familiar. Portanto, dentro do aspecto simbólico de pastor e rebanho, há uma realidade intrínseca, a necessidade de cuidar, proteger, dar abrigo e bons exemplos aos fiéis de sua comunidade e a tantos quantos o solicitar. Dessa forma, o líder eclesiástico, além da ausência do reconhecimento das pessoas, deve lidar com os mais diversos conflitos que afligem a humanidade, especialmente, conflitos dos membros de sua comunidade. Apesar de a igreja ser um ambiente de espiritualidade e fé, problemas dos mais variados podem ocorrer com os religiosos que ali convivem. Sendo assim, vale ressaltar que ambiente com relações interpessoais conflituosas e ingratas e, agenda de atividades desorganizadas torna-se um gerador de doenças emocionais.  Pesquisas afirmam que o excesso de dedicação do pastor, muitas vezes não retribuída, causa a sensação de desvalorização. O Burnout é uma Síndrome que faz o indivíduo perder o sentido da sua relação com o trabalho e sente como se as coisas já não tivesse mais importância. Como qualquer trabalhador comum, a atividade e as habilidades do pastor são avaliados e, exigidas, pela sociedade uma máxima 'perfeição', inclusive no que se refere ao comportamento ético, postura, costumes e teologias. 
Diante dos riscos de adoecimento, torna-se necessário uma atitude preventiva, sendo assim, o pastor deve ser despertado para a realidade do mundo onde existimos, um universo povoado por seres sedentos, sobretudo insaciáveis, de respostas. Psicoterapeutas relatam que líderes religiosos trazem diversas queixas, sendo uma das mais frequentes, a de ter que ser forte e pacífico quando, no entanto, estão em tormentos e debilitados. Para o pastor, aceitar que ao homem está inerente à fragilidade e a limitação, poderá ser um grande salto para lidar com seus próprios conflitos emocionais.

Luzimar Vieira

Pastor e Psicólogo

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